Dipirona: uma opção para o tratamento da dor em cães e gatos

   Diariamente, nós Médicos Veterinários, somos confrontados com a "dor" na rotina de atendimentos clínicos e cirúrgicos de pequenos animais. Sabe-se que o fato do paciente veterinário não conseguir verbalizar a dor, não significa que ela não existe e nem tão pouco deve ser ignorada.

   A Associação Internacional do Estudo da Dor (The International Association for the Study of Pain) define dor como uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a um dano tecidual real ou potencial. Atualmente, a dor é considerada o quinto sinal vital em pacientes humanos de acordo com a Comissão Conjunta de Acreditação de Organizações de Saúde (Joint Commission on Accreditation of Health Organizations), o que enfatiza a importância do seu controle e tratamento.

   Enquanto a dor aguda é sintoma de alguma doença, a dor crônica é uma doença propriamente dita, sendo prejudicial, independente ao estímulo que a gerou. 

 

 Farmacologicamente falando, as drogas mais comumente usadas para o controle da dor aguda são os opióides e não-opióides, incluindo os antinflamatórios não esteroidais (AINEs) e as drogas antipiréticas. Alguns analgésicos opióides promovem uma analgesia efetiva e consistente, mas tem seu uso limitado devido aos efeitos secundários e indesejáveis que causam.

      Mas por que tratar a dor? A dor provoca complicações respiratórias, cardiovasculares, digestivas e prolonga o tempo de internação/tratamento do paciente o que ainda aumenta os custos relacionados. Como a maioria das síndromes dolorosas é complexa e envolve diversos mecanismos, parece lógico a necessidade de tratamentos que envolvam mais de uma medicação, é a chamada analgesia balanceada ou multimodal; que nada mais é que o uso de mais de uma modalidade de analgésicos. Um plano de tratamento efetivo inclui medicamentos de diferentes classes analgésicas, atuando em pontos diferentes dos mecanismos fisiopatológicos que envolvem a dor.

 Entre a gama de medicações com efeito analgésico, destaco hoje a  dipirona, também conhecida como metamizol, utilizada na medicina humana desde 1922. É uma droga de fraca ação antinflamatória mas com grande poder de alívio da dor, antipirético e com propriedades espasmolíticas as quais não têm contra-indicações ou limitações usualmente observadas em outras classes, como os opióides ou outros antinflamatórios (em especial os AINEs). 

   Pode ser empregada para analgesia da dor leve a modera, especialmente associada a tecidos moles, espasmos da musculatura lisa ou cólicas de trato urinário, grastintestinal ou biliar. Quando associada a opióides ou a outros AINEs trata dor moderada e grave devido ao efeito sinérgico que ocorre.

   Como faz metabolização hepática e excreção renal, deve-se atentar ao possível agravamento ou desenvolvimento de doenças nesses órgãos. Sendo assim, deve haver especial cautela no uso em pacientes idosos, debilitados ou com terapêutica longa.

   Mais estudos do uso da dipirona em cães e gatos são necessários pois poucos estão disponíveis na Medicina Veterinária. Porém, a dipirona vem se mostrando uma droga segura e eficaz no combate a dor. Obviamente, como toda droga, efeitos secundários podem ocorrer. Porém é possível considerar que os benefícios clínicos do uso da dipirona superam os riscos, pois os efeitos adversos, quando ocorrem, podem ser tratados sem a necessidade de suspensão do medicamento. 
   Mesmo assim, todo e qualquer uso de medicamentos deve ser por orientação médica! Até porque alguns efeitos são espécie específicos, ou seja: o resultado que você obtém ao tomar a medicação "x", pode não ser o mesmo esperado se dado ao seu cão ou gato. E, como eles não costumam ir à farmácia ou fazer uso por conta própria de medicações, você é o único responsável por aquilo que seu animal ingere. 

Então fique atento! 

Um ato de "possível"ajuda pode resultar em 

graves lesões orgânicas nos pacientes!